E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados. (Mateus 10:30)
Baseado no tema "o que rege o mundo é a providência, não o acaso nem a sorte", João Calvino em sua obra As Institutas, discorre a respeito do controle de Deus sobre todas as coisas no mundo.
Segundo ele, para que melhor se patenteie esta diferença, deve-se ter em conta que a providência de Deus, como ensinada na Escritura, é o oposto de sorte e dos acontecimentos atribuídos ao acaso.
Ora, uma vez que, em todos os tempos, geralmente se deu a crer, e ainda hoje a mesma opinião domina a quase todos os mortais, a saber, que tudo acontece por obra do acaso, aquilo que se deveria crer acerca da providência, certo é que não só é ofuscado por esta deturpada opinião, mas inclusive é quase sepultado em trevas.
Por exemplo, diz Calvino: "Se alguém cai nas garras de assaltantes, ou de animais ferozes; se do vento a surgir de repente sofre naufrágio no mar: se é soterrado pela queda da casa ou de uma árvore; se outro, vagando por lugares desertos, encontra provisão para sua fome; arrastado pelas ondas, chega ao porto; escapa milagrosamente à morte pela distância de apenas um dedo; todas essas ocorrências, tanto prósperas, quanto adversas, a razão carnal as atribui à sorte. Contudo, todo aquele que foi ensinado pelos lábios de Cristo de que todos os cabelos da cabeça lhe estão contados (Mateus 10.30), buscará causa mais remota e terá por certo que todo e qualquer evento é governado pelo conselho secreto de Deus".
Ele vai mais longe quando arrazoa a respeito das demais obras da criação: "quanto às coisas inanimadas, por certo assim se deve pensar: embora a cada uma, individualmente, lhe seja por natureza infundida sua propriedade específica, entretanto não exercem sua força senão até onde são dirigidas pela mão sempre presente de Deus. Portanto, nada mais são do que instrumentos aos quais Deus instila continuamente quanto quer de eficiência e inclina e dirige para esta ou aquela ação, conforme seu arbítrio".
Um dos maiores exemplos que podemos ter do poder criador e controlador de Deus é a força mais admirável ou mais destacada do sol. Pois, além de iluminar com seu fulgor a todo o mundo, nutre e vitaliza a todos os seres animados; com seus raios enche de fecundidade a terra.
Um dos maiores exemplos que podemos ter do poder criador e controlador de Deus é a força mais admirável ou mais destacada do sol. Pois, além de iluminar com seu fulgor a todo o mundo, nutre e vitaliza a todos os seres animados; com seus raios enche de fecundidade a terra.
Mas o Senhor, o único digno de adoração, antes mesmo que houvesse criado o sol com todo o seu esplendor disse "haja luz", reivindicando para Ele e não para o sol, toda honra glória e poder.
Razão pela qual, Calvino relembra que "quando, além disso, lemos em duas ocasiões, que às preces de Josué o sol se deteve em um grau (Josué 10:13), e que, em atenção ao rei Ezequias, sua sombra retrocedeu dez graus (2 Reis 20:11; Isaías 38:8), com estes poucos milagres Deus testificou que não é por cego instinto da natureza que o sol nasce e se põe diariamente, mas porque Ele próprio, para renovar a lembrança de seu paterno favor para conosco, governa seu curso".
Não é à toa que assim diz a Palavra: "e quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? --- diz o Santo. Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome; por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar" (Isaías 40:25 e 26).
Por fim, que o Espírito Santo do nosso Deus ilumine nossas mentes e corações para entendermos que para aquele que crê não existe sorte ou acaso, mas sim um Deus que nos ama, esquadrinha e dirige todos os nossos caminhos.
Pela fé, "entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará" (Salmos 37:5).
Rev. Walter Mello
Texto retirado do Boletim da Igreja Presbiteriana Nacional em Brasília, Ed. 2187.